
“Vivemos num mundo em que a afirmação individual dos sujeitos se faz pelo que têm.
Não basta ser inteligente, bonito, elegante, simpático, espirituoso, culto, desembaraçado, divertido, ou tudo isso em pacotes condensados. (...)
Dinheiro, 1 título, um cargo, um nome...N ter é o mm k n ser. Logo não ter qualquer coisa com jeito, qualquer coisa que os outros reconheçam e avaliem como boa ou desejável, é a desclassificação suprema.
(...) chega-se a 1curioso fenómeno (...) que é o de “ter” pessoas.
O problema desta expansão possidente não está na aquisição mas na perda. Ninguém gosta de perder o que quer que seja.
(...) e mais difícil ainda assumir que se quer alguém pelo que ela significa do que pelo que ela é, embrulha-se tudo na designação genérica de amor e diz-se e acredita-se que se sofre por amor. Que continua a dar para tudo.”
“ Não só não se perdoa ao outro o abandono como não se arranja mecanismos de compreensão e, muito mais grave, fica-se num impasse de sofrimento, em que se recusa a aceitação de uma perda que é imposta.(...) O triste , o absolutamente triste, de tudo isto, é que o amante abandonado na sua recusa de aceitação torna-se um ser indescritível. Ameaça, rebaixa-se, persegue, chora, impõe-se, suplica, diz mal, diz bem, diz que mata, diz que morre, chantageia, pede perdão.”
(Esta passagem lembra-me alguém... ☹ . Nestes momentos valorizo ainda mais o Marino por me ter compreendido na decisão de terminarmos e por não fazer “filmes”!)
in Guia de sentimentos prováveis, Isabel Leal